quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Andon: As luzes e sons da gestão

Independente da área em que atuamos, seja comércio, indústria ou serviços, estamos em constante luta com fatores como tempo, custo e qualidade, entre outros. Partindo desta situação inicial, presente nas empresas, temos que buscar métodos ou artifícios que contribuam para melhoria da qualidade, continuidade nos processos o que consequentemente acarretará na redução de custos e agilidade de entregas.
            
Se analisarmos fatores relacionados a tempo, custo e qualidade, podemos observar que estes estão intimamente ligados, ou seja, se produzirmos com maior qualidade automaticamente retrabalhos serão minimizados ou evitados e por sua vez, evitando-se estes retrabalhos ou desperdícios, os tempos de entrega passam a ser menores e os custos envolvidos com correções, insumos perdidos, equipes adicionais naturalmente diminuiu. Dessa forma, a adoção de meios que, promovam uma maior interação entre estes três fatores, possibilitará o trabalho em favor da otimização de atividades e por sua vez acarretará em retornos positivos a nossa empresa.
           
Assim, um dos meios que podem nos ajudar para o controle de produção e contribuição para os fatores mencionados é o Andon. Oriunda do Sistema Toyota de Produção, esta técnica visa alertar por meio de sinais sonoros e/ou luminosos eventuais problemas de produção, principalmente no que tange a qualidade dos produtos ou serviços, afetando por sua vez o sistema como um todo.
            
A palavra Andon é de origem japonesa, cujo significado é lanterna ou lampião e sua aplicação prática, por exemplo em uma indústria, consiste no uso de sinais luminosos e/ou sonoros instalados em determinados pontos da linha de produção. Tais pontos são acionados (operados) pelos próprios operadores da linha quando algum problema ou defeito inerente do processo é identificado. Esta ação de sinalização automaticamente e visualmente informa aos operadores da linha bem como aos líderes de que existe um problema e que o mesmo deve ser sanado o mais rápido possível para não afetar a produção, seja pela parada da mesma ou pela repetição e transferência do problema/erro para a etapa subsequente da linha, gerando ao final um produto de baixa qualidade que por sua vez, deverá ser retrabalhado, elevando-se os custos.
            
Outro aspecto importante na utilização do Andon, é que ao detectar o problema, geralmente a linha de produção, que possua correlação com o setor do problema, é paralisada, o que por sua vez evita gargalos e faz com que todos os envolvidos, não só no ponto ou estação de trabalho que foi detectado o erro, mas em toda a linha de produção, se comprometam para a resolução do problema a fim de aumentar a eficiência do processo e por sua vez promovam o fluxo continuo.

Benefícios do Andon
- Redução de perdas devidos a defeitos, principalmente os defeitos reincidentes, quando se identifica o problema, o processo para resolução do mesmo evitando sequência de produção com erros;
- Redução de perdas devido a espera;
Problemas identificados rapidamente, agilizando a produção;
Aumento da autoestima dos trabalhadores devido ao empoderamento dos mesmos: o trabalhador controla a produção podendo paralisá-la em caso de problemas.
Atividades mais focadas para resolução de problemas;
Desenvolvimento de busca pela melhoria contínua e espírito de equipe;
Melhoria do planejamento: Auxilia no fornecimento de indicadores de problemas bem como determinando tempos de ciclo, tornando o planejamento mais assertivo.

Barreiras ao Andon
   - Cultura da empresa: Dificuldade de mudança dentro da empresa, que muitas vezes encara o “parar a produção” como “perder dinheiro”.
   -   Resistência a mudanças por parte dos operários: Receio dos operadores em identificar falhas em seu setor ou de seus colegas.
 - Dificuldades de ordem técnica: Necessidade de instalações específicas para funcionamento do Andon.

Andon na prática




 - Definição conceitual de problema: Deve-se alinhar com a equipe o que a empresa considera como problema (falta de material, segurança do trabalho, critérios de qualidade, etc.), ou seja, situar todos na produção e supervisão dentro da mesma página de forma que somente as categorias de problemas previamente determinadas entrem em eventuais acionamentos do Andon.

 - Forma de sinalização do problema: Definição do sistema que será adotado (luzes, sons, parada total ou setorial de produção), ou seja, de que forma o Andon irá operar.

 - Identificação os responsáveis pela sinalização e resolução do problema: Definir quem serão os responsáveis tanto pelo acionamento quanto pelo apoio técnico e resolução dos problemas identificados.

 - Armazenamento de informações: Determinação de como as informações (problemas, soluções e indicadores) serão documentados, arquivados, utilizados no futuro (lições aprendidas).


Indicadores de qualidade: Como utilizar as informações geradas pelo Andon?

Devemos salientar que, somente possuir um sistema Andon implantado e funcionando em nossas empresas, onde a produção será paralisada e os problemas identificados serão solucionados não é suficiente se os problemas persistirem e a produção parar a todo momento. Caso isto aconteça não estamos promovendo a melhoria contínua dos processos, mas promovendo ações corretivas temporárias. O caminho mais correto é buscar aplicação e utilização do Andon não somente com a simples função de sinalizar, mas sobretudo com a função de fornecer informações que proporcionaram a melhoria dos processos. Mas como posso fazer isso? De maneira simplificada, à medida que identificamos um problema na produção, paralisando a mesma a acionando/solicitando ajuda, estamos automaticamente gerando informações extremamente relevantes para criação de indicadores de qualidade e produtividade que servirão de base para controles atuais e planejamentos futuros.

Tomemos como exemplo, algumas informações que podemos controlar a partir de um Andon.

  -  Número de paradas de produção: Quantidade de vezes que o Andon é acionado e a produção é paralisada, indicando ao longo do tempo se a eficiência produtiva tem melhorado, ou seja, o número de paradas tem reduzido.

 - Tempo médio para resolução de problemas: Indicador que determina a média de tempo que se leva para resolução dos problemas, determinando a longo prazo se a equipe de manutenção ou resolução de problemas está mais ágil, mais eficiente.

  -  Motivos das paradas (problemas identificados): Gráficos ou quadros indicativos que determinam os tipos e quantidades de problemas encontrados na produção. Tais indicadores possibilitam a identificação de problemas recorrentes ou até mesmo de problemas versus o tempo de parada, norteando a empresa para ações corretivas dos mesmos, priorizando os problemas mais recorrentes os aqueles cujos tempos de parada de produção sejam altos

Além destes indicadores, pode-se gerar muitos outros como: Custo x tempo de parada, Percentual de Tempo Parado, entre outros. Entretanto devemos ser cautelosos quanto a indicadores, buscando utilizar somente aqueles realmente relevantes para nosso processo, evitando o excesso de burocratização da produção.

O que tiramos de lição do Andon?
     
Nos parágrafos anteriores falamos da sistemática do  Andon, seus benefícios, barreiras, forma de implantação e indicadores que o mesmo nos proporciona, entretanto se pudéssemos simplificar todo o sistema Andon em uma frase que o representa-se, poderíamos dizer que “O sistema Andon, através de um método simples de comunicação visual, nos ajuda a reduzir desperdícios e tempos produtivos, melhorando nosso planejamento de longo prazo e possibilitando um controle de qualidade mais eficiente, visual e assertivo”, ou seja, o Andon é um passo importante na caminhada Lean. Logo, se buscamos traçar em nossa empresa um caminho dentro das boas práticas, sejam elas nos horizontes estratégicos, táticos ou operacionais, associadas a uma cultura Lean focada na melhoria contínua de processos e produtos, devemos abraçar mudanças em nossas culturas tradicionais de trabalho e, o Andon irá nos “sinalizar” rumo a estas mudanças.

Em suma, o Andon é um forte aliado na busca pela estabilização do fluxo produtivo, no desenvolvimento de conceitos como envolvimento, comprometimento e cooperação, na comunicação de todos os envolvidos no processo, na geração de aprendizado, na busca pela eliminação de problemas recorrentes e principalmente na melhoria contínua.

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